Quiet Quitting: Entenda o que é a demissão silenciosa
O termo “quiet quitting” se tornou o assunto das últimas semanas. Viralizou nas redes sociais do mundo inteiro e ocupou as principais notícias em veículos como The New York Times, BBC e The Washignton Post. A expressão foi traduzida como “desistência silenciosa” ou “demissão silenciosa” surgiu em vídeo na plataforma Tik Tok.
Com milhares de conteúdos, os usuários começaram a refletir sobre os aspectos negativos das relações de trabalho. Para evitar o burnout e preservar a vida pessoal, cada vez mais pessoas aderem ao “quiet quitting”.
A expressão refere-se a uma mudança de comportamento, que sugere às pessoas a cumprirem apenas aquilo que está descrito em seu escopo de trabalho. Esse é um discurso que vai na contramão de um movimento amplamente disseminado pela hustle culture, ou cultura da agitação.
Diante desse novo cenário é possível ver que as novas gerações chegaram para mudar o mercado de trabalho. E assim como toda mudança, surgem dúvidas e receios se será para melhor ou não.
Enquanto isso, do outro lado da história, as empresas que desejam permanecer em evidência, precisam se atentar ao que ainda está por vir.
Entenda os movimentos dos últimos anos
Em 2021, houve a grande demissão, onde os colaboradores estavam deixando de forma voluntária e em massa, os seus empregos para buscar novas oportunidades. Dentre os motivos, as pessoas citavam financeiro, saúde, entre outros.
A busca por um limite saudável entre trabalho e vida pessoal é o que os trabalhadores defendem. Esses profissionais não querem ser desligados das empresas, mas desejam o equilíbrio entre o profissional e o pessoal.
Há quem associe o quiet quitting com apatia ou corpo mole, o que não condiz com a realidade. Esse é mais um daqueles assuntos que não dá para generalizar, é preciso entender que há dois lados onde empresas precisam entregar cada vez mais. E do outro, há pessoas que estão tentando priorizar sua saúde física e mental.
Para tal, é preciso dedicar um tempo para si, mas isso não quer dizer não se dedicar às suas funções.
Um movimento para dizer não à cultura da agitação
“Trabalhe enquanto eles dormem”.
Essa é uma frase muito comum e popular na lógica das startups, porém, cada vez mais, ela perde força e espaço para conceitos de trabalho que valorizam a saúde mental e a qualidade de vida profissional.
De acordo uma uma pesquisa da Roberth Ralf, 32% da população economicamente ativa é afetada pelo burnout. Especificamente no Brasil, 1 em cada 3 pessoas sofrem de esgotamento mental relacionado ao trabalho.
Não foi à toa, que na última atualização da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) realizada em janeiro de 2022, a Síndrome de Burnout foi reclassificada. Atualmente, ela é definida como um transtorno ocupacional, o que reforça que o trabalho em excesso pode literalmente desencadear uma disfunção séria na mente dos colaboradores.
E é diante de tudo isso, que a gestão de pessoas e empresas precisam estar cientes da situação. Somente assim, é possível traçar planos e ações de melhoria que visam se adequar às novidades laborais.
Dados sobre o quiet quitting
A desistência silenciosa se refere aos profissionais que decidiram fazer o mínimo no trabalho, ao invés de ir além do empregador. De acordo com uma pesquisa do ResumeBuider.com realizada com 1.000 americanos, o estudo foi realizado para entender sobre o que se trata essa onipresença de parar de desistir. E as conclusões foram as seguintes:
- 21% dos trabalhadores estão ‘desistindo’ dizendo que fazem apenas o mínimo;
- 5% fazem ainda menos do que são pagos para fazer;
- 8 em cada 10 ‘desistentes quietos’ estão esgotados;
- 1 em cada 10 funcionários está se esforçando menos do que há 6 meses;
- 1 em cada 3 que reduziram o esforço reduziram as horas gastas trabalhando em mais de 50%;
- 9 em cada 10 ‘desistentes silenciosos’ podem ser incentivados a trabalhar mais.
O que é o quiet quitting?
“Quiet quitting não é sobre desistir”.
Apesar do nome, o termo não tem nada a ver com deixar o emprego. A expressão também trouxe significados enganadores, pois não é sobre fazer planos para fazer isso de forma silenciosa.
Na verdade, o termo visa abrir uma discussão para limitar as tarefas de trabalho ao que é descrito na função. O objetivo é não assumir mais deveres do que o cargo atual estabelece, e fazer da melhor forma possível para concluir o trabalho, mas fazer bem feito.
Esse é um movimento em que as pessoas que estão insatisfeitas com a forma como são tratadas por seus empregadores, ganham voz. É uma forma que as pessoas encontraram de evitar o burnout, quando trabalham mais do que o necessário, sem qualquer remuneração para isso.
Por que o assunto ganhou tanta repercussão?
Desde o início da pandemia, muitos desafios contribuíram para o burnout, depressão, ansiedade, raiva, além do sentimento de falta de controle da própria vida. E quando olhamos para as mulheres, que na grande maioria conciliam as responsabilidades domésticas, com os cuidados com as crianças e ajudam na educação dos filhos, esses desafios se tornam ainda maiores.
O trabalho remoto se tornou o novo normal, e apesar de oferecer alguns benefícios o novo modelo acabou ultrapassando os limites entre casa e trabalho. Para muitas pessoas, saber quando começa e termina as atividades pelas quais são pagas, se tornou uma tarefa ainda mais difícil.
A expressão trouxe a milhares de pessoas uma nova forma de olhar e pensar sobre como recuperar o controle de suas vidas. O ato de se demitir, dá uma sensação de poder pessoal, além de sanar o sentimento de estar sobrecarregado.
Quiet quitting e o grande desafio para os profissionais de RH
De acordo com o International Stress Management Association (ISMA-BR), o Brasil é o 2º país do mundo com mais casos de Burnout. O que significa que, dos mais de 100 milhões de trabalhadores, cerca de 30% são atingidos pelo distúrbio.
Em 2021, o ZenKlub publicou com exclusividade pela EXAME, o Índice de Bem-estar Corporativo. Nele, as empresas brasileiras ficaram abaixo do índice considerado ideal de 78 pontos. O levantamento foi realizado com mais de 1.600 colaboradores de 355 empresas.
Dentre as respostas, os principais alertas que ameaçam o bem-estar nas empresas são:
- Burnout com 58,75%.
- Volume de demanda e controle com 54,44%.
- Adição ao trabalho com 46,51%.
Outro ponto relevante de um estudo global realizado pelo Workmonitor, mostrou que 56% da geração Z e 55% dos millennials preferem deixar o emprego, se isso interferisse em sua vida pessoal.
O que o RH e as empresas podem fazer agora?
Antes, o esgotamento e o estresse já preocupavam a gestão de pessoas devido à falta de engajamento. O que gerava menor produtividade e ou a perda de profissionais, com o burnout, tudo isso se torna mais um fator de risco financeiro.
De um lado, empresas criam planos ambiciosos de crescimento, diversificação e digitalização. E para atender tudo isso, aumenta a demanda de recursos e pessoas engajadas com esse desafio.
Na contramão dessa necessidade, estão as pessoas que buscam incessantemente, o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, e que estão dispostas a fazer o mínimo necessário para se manterem empregadas.
É preciso avaliar de uma forma geral e ao mesmo tempo individual, como os colaboradores se sentem nas empresas. Saber ouví-los é o primeiro passo para entender o que eles precisam para não deixar seus empregos.
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